CAMPO GRANDE (MS),

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    11/01/2016

    Terá sido de fato eliminada a Boko Haram?

    Em entrevista recente a BBC, Presidente da Nigéria afirma ter sobrepujado indefectivelmente a organização terrorista

    Terroristas militantes do Boko Haram

    Embora o Estado Islâmico do Iraque e da Síria possa ser considerado atualmente uma das maiores e mais perigosas organizações terroristas a existir hoje no mundo, ela não é a única a infligir temor em todos aqueles que temem atentados terroristas. A organização de extremistas islâmicos conhecida como Boko Haram, baseada na Nigéria, mas atuante também em outros países da África, é igualmente responsável por diversos atentados e atrocidades em grande escala, que só não são comparados ao Estado Islâmico pelo fato de seu efetivo e de sua capacidade logística serem relativamente inferiores. Não obstante, a audácia, a agressividade e os requintes de crueldade perpetrados pela Boko Haram têm deixado autoridades governamentais na África preocupadas e apreensivas, e diversas operações já foram realizadas com o intuito de eliminar, de uma vez por todas, a organização terrorista. Apesar do presidente da Nigéria, Muhammadu Buhari, ter afirmado, em dezembro de 2015, como relatado em uma recente reportagem da BBC, que as sucessivas operações de contraterrorismo realizadas com o intuito de sobrepujar a Boko Haram reduziram-na a uma pequena célula terrorista com um potencial destrutivo insignificante, sua afirmação foi recebida com ceticismo por diversos indivíduos que criticaram as ofensivas militares, argumentando que o governo não têm disponibilizado informações realistas concernentes às operações, apontando também para o fato da grande capacidade dos militantes de se reagruparem, se reerguerem, e darem continuidade as atrocidades em larga escala, como bem o fizeram em outras ocasiões. 

    Há exatamente um ano, em janeiro de 2015, os militantes realizaram um massacre na cidade de Baga, no nordeste do país, que viu o exército nigeriano incapaz de conter um massacre de quatro dias, perpetrado de forma brutal pelos violentos extremistas islâmicos. No final do mês, uma coalizão entre os exércitos da Nigéria, Níger, Chade e Camarões deu início a uma ofensiva militar contra o Boko Haram, que, por sua vez, retaliou logo em seguida, ao atacar a cidade de Fotokol, no Camarões, matando aproximadamente cem pessoas, entre militares e civis. 

    Assim como o Estado Islâmico – a quem se afiliou, em março de 2015 – o Boko Haram busca seus alicerces financeiros em atividades estritamente ilícitas e ilegais, sendo o sequestro de estrangeiros abastados e a extorsão de governos locais suas principais fontes de renda. Seu líder, Abubakar Shekau, é considerado pelo Departamento de Estado Americano um terrorista de interesse global. Em 21 de junho de 2012, foi classificado como um Terrorista Global Especialmente Designado, o que ocorreu após Abubakar Shekau ter proferido diversas ameaças terroristas contra os Estados Unidos. Seu perfil descritivo pode ser acessado no Centro Nacional de Contraterrorismo, que atualmente oferece uma recompensa de sete milhões de dólares por sua captura, ou por informações concernentes ao seu paradeiro. 

    Quando os fatos são confirmados, não há dúvida alguma de que o governo nigeriano exagerou sobremaneira sua vitória sobre o Boko Haram, embora tenha sido capaz, de fato, de causar danos consideráveis à organização terrorista. Não obstante, esta é uma guerra sem vitória certa, e com inúmeros danos colaterais. Em julho de 2014, Shekau gravou um vídeo no qual expressou seu apoio ao Estado Islâmico, a al-Qaeda e ao Taliban, indicando uma possível coalizão entre as organizações terroristas em futuros atentados. De qualquer maneira, os governos engajados em operações de contraterrorismo terão de permanecer com os olhos bem abertos, e, ao contrário do presidente nigeriano Muhammadu Buhari, não gabarem-se tanto com pequenas vitórias, que podem ser logo esquecidas, e transformarem-se em amargas derrotas. A guerra contra o terrorismo é incessante e interminável; como se sabe, assim que cinco terroristas são mortos, quinze são recrutados em seu lugar. E a guerra prossegue, sem qualquer expectativa de conclusão, tanto a curto quanto longo prazo. Declarações vazias de pequenas vitórias podem ser ótimas propagandas políticas, mas não zelam pelos reais interesses da segurança da população. 


    Autor: Wágner Hertzog