Judocas, no entanto, já projetam repetir o feito nos Jogos Olímpicos do Rio, em 2016
Felipe Kitadai e Sarah Menezes comemoram as medalhas com muito brigadeiro - foto: IVO GONZALEZ / AGÊNCIA O GLOBO
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LONDRES - Sarah Menezes e Felipe Kitadai estão vivendo cada momento em Londres do que eles ainda chamam de sonho. Mas é inevitável pensar adiante. A primeira campeã olímpica do judô brasileiro e o medalhista de bronze já projetam 2016, no Rio, onde esperam repetir o sucesso.
- O ouro olímpico muda a cabeça das pessoas. A partir de agora, criamos mais confiança, a postura da gente vai mudar, a tranquilidade será maior. Vai começar tudo de novo, vamos fazer outra história - disse Sarah.
Kitadai fez coro:
- Para muita gente, uma Olimpíada é o ponto final; para mim, é o ponto inicial. Em 2016 vai ser melhor.
Felipe Kitadai dormiu apenas uma hora na noite passada. Sarah Menezes, nem isso conseguiu. Mas os medalhistas de bronze e de ouro do judô estão aproveitando cada minuto do momento mágico que passaram a viver depois de terem subido ao pódio olímpico na tarde de sábado, em Londres.
- Dormi uma hora, bem forçado, porque estava exausto. Fiquei até com medo de dormir e, quando acordasse, fosse um sonho. Até agora, é tudo um sonho - confessou Kitadai, que ganhou o bronze olímpico da categoria ligeiro no dia em que completou 23 anos.
Neste domingo, a dupla chegou com hora e meia de atraso à Casa Brasil, na suntuosa Sommerset House, à beira do Tamisa, para contar sobre suas experiências. Uma mudança radical na vida deles só está começando:
- Minha meta é 2016, mas, agora, eu não quero saber de judô, não. Quero estudar, quero cursar o inglês porque não tive tempo... é ruim viajar, viajar e não entender nada....daqui a um ano vou voltar o foco e representar o Brasil, mesmo. Sou muito nova, tenho ao menos dois ciclos para continuar brilhando - planejou Sarah.
A judoca espera conquistar outra medalha na vida, aproveitando o sucesso que faz para ajudar quem acreditou nela. Planeja criar melhores oportunidades para aqueles que têm raras, em seu Piauí natal, de onde jamais quis sair e onde trabalhou para ser campeã olímpica aos 22 anos.
- Quando eu entrei no judô, foi por brincadeira, nem pensava em Olimpíada, nem sabia o que era isso. Era para me divertir. Quem acreditou no meu potencial foi meu treinador (Expedito Falcão). Ele acreditava nesse sonho, e sonhei junto com ele. Com o tempo, conseguimos montar a mesma estrutura que tenho na seleção brasileira. Tudo que eu preciso, temos em Teresina. Por isso, nunca saí da minha cidade. Espero que essa medalha me ajude a montar um projeto social para ajudar jovens carentes que sonham chegar aonde eu cheguei agora – contou.
A vitória de Sarah veio exatamente 20 anos depois de o meio-leve Rogério Sampaio ter conquistado aquela que, até ontem, era a última medalha de ouro do judô brasileiro numa Olimpíada, em Barcelona-1992.
- Há 20 anos, o Brasil não conquistava um ouro no judô. Era muito esperada, havia muita gente torcendo por nós – disse a pequena cajuína da categoria até 48kg. - Tinha que ir devagarzinho, na estratégia. Não podia ir pensando logo no ponto máximo, que é o ippon. Tudo foi bem pensado.
Sarah disse que a diferença entre os dois ouros, de 1992 e 2012, é a ajuda da tecnologia e da preparação mental.
- Hoje, a tecnologia faz a diferença, junto com o psicológico. Posso ver em vídeo todas as lutas de minhas adversárias, estudá-las. É mais fácil. Não tem mais mistério. O que precisa trabalhar mais é a parte mental. Você ganha se estiver forte mentalmente, concentrado apenas em você – ensinou.
Ela prosseguiu:
- Assistir aos vídeos foi muito importante. Aprendi isso no treinamento psicológico, e sempre que assistia as minhas lutas, aprendia. Ganhei confiança. Todo mundo é forte. O que faz a diferença é a cabeça do atleta. Quando você se vê fazendo o trabalho, confia mais. Tive esse sentimento e entrei tranquila e, controlando a emoção por dentro, que era muito grande. Acreditei desde quando cheguei (a Londres), porque me sentia muito confiante. Tentava controlar o nervosismo e me concentrar em mim. Sabia que era favorita, mas tinha que controlar a ansiedade. Consegui controlar, e, a cada luta que eu avançava, as coisas iam melhorando.
Sarah contou que se lembrou do que aconteceu no último Mundial, quando perdeu para a japonesa na final.
- Nem pensei em Olimpíada porque isso muda a cabeça da pessoa completamente. Procurei entrar na competição como se fosse um Mundial, que é até mais difícil. Então, se eu cheguei a duas finais de Mundial, com duas atletas de cada país por categoria, por que não chegaria na final olímpica?
Presidente da Confederação Brasileira de Judô (CBJ), Paulo Wanderley era o treinador da seleção quando Rogério Sampaio foi campeão olímpico, em 1992. Na véspera daquele 28 de julho de 1992, ela havia dito aos jornalistas para nem passarem no Palau Blaugrana, pois Sampaio não tinha chance. Ontem, parecia aliviado.
- Fazia 20 anos sem ouro, apesar do mantra de há sete Olimpíadas consecutivas subirmos no pódio. Isso se confirmou e de forma espetacular, com a Sarah e a primeira medalha de ouro do judô feminino. Era uma meta levar o judô feminino ao ponto mais alto do pódio, e conseguimos – afirmou o dirigente. - O judô brasileiro passa por um momento bastante favorável, com o apoio de patrocinadores. Queremos crescer ainda mais.
Sarah espera uma grande festa quando voltar ao Brasil no próximo dia 5 (domingo).
- Chegaremos ao Brasil no dia 5, na parte da tarde. Espero uma festa gigante, a maior que tiver, vai ser bem merecido – pediu.
Felipe Kitadai ainda não havia pensado nisso:
- Ainda não pensei, mas tomara que seja algo do tamanho do nosso esforço.
Eles merecem. E muito.
Fonte: OGlobo
Por: JORGE LUIZ RODRIGUES