CAMPO GRANDE (MS),

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    28/12/2015

    Nursultan Nazarbayev – Presidente Perpétuo do Cazaquistão

    Encontrará algum dia o Cazaquistão o caminho para a verdadeira democracia?

    Astana, Capital do Cazaquistão - Divulgação

    Embora raramente protagonize temas ou notícias das manchetes internacionais – ao menos no ocidente – o Cazaquistão é uma considerável potência regional local que, sendo o nono país do mundo em dimensões territoriais, vem a ser mais extenso do que toda a Europa Ocidental. Tendo sido a última república a separar-se da União Soviética, desde sua independência, o Cazaquistão é governado pelo presidente Nursultan Nazarbayev, conhecido por perseguir dissidentes políticos, reprimir toda e qualquer oposição ao seu governo e fazer tudo o que estiver ao seu alcance para perpetuar-se no poder. Como não poderia deixar de ser, são sintomas clássicos da herança socialista soviética, com todos os seus órgãos de repressão a serviço dos indivíduos no poder, uma cultura de controle, repressão e espoliação herdada por todos os países da região que foram nações constituintes da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, como Turcomenistão, Uzbequistão e Bielorrússia, o que os situa entre os países mais ditatoriais e opressivos do mundo. 

    Nursultan Nazarbayev, Presidente do Cazaquistão

    Não obstante, a pretensão em se adotar uma fachada democrática em todas estas nações é visível, pelas eleições periódicas – que em sua grande maioria são fraudulentas – realizadas com a intenção de passar a impressão de que a população tem não apenas o direito, mas o dever cívico e moral de escolher os dirigentes governamentais da nação. Não obstante, tais eleições são apenas teatros muito bem armados, que nada fazem, senão “legitimar” através de um processo “democrático”, os indivíduos que já ocupam o poder. Em 2015, Nursultan Nazarbayev foi novamente “reeleito” presidente do Cazaquistão, com 97% dos votos, e, ao que tudo indica, continuará no poder, provavelmente, até morrer. 

    Sendo atualmente uma das mais fortes economias da Ásia Central, o Cazaquistão lidou com a crise financeira global de forma muito superior a outros países do mundo, sendo capaz também de exercer certo controle sobre a inflação. Localizado em seu território, está o importante Cosmódromo Baikonur, a primeira estação aeroespacial do mundo, que levou, a 12 de abril de 1961, a bordo da Vostok 1, o primeiro humano a ir para o espaço, o cosmonauta soviético Yuri Gagarin.

    Não obstante, apesar de possuir índices de desenvolvimento superiores aos países vizinhos, podendo competir em uma categoria global em diversos setores da economia, o Cazaquistão continua sendo um dos países mais corruptos e opressivos do mundo. De acordo com o Índice de Liberdade de Imprensa compilado pela organização internacional Repórteres sem Fronteiras, o Cazaquistão possuía um dos índices mais baixos da lista, ficando em 161º lugar, dentre 180 países pesquisados. Os direitos humanos no país são igualmente precários, e relatos de toda sorte de abusos são frequentes. 

    Com um passado marcado por discordâncias, militâncias e dissidências, que o situavam como um dos elementos em ascensão no Partido Comunista durante o período soviético, Nursultan Nazarbayev tornou-se o Primeiro Ministro do Cazaquistão em 1984, e foi nomeado o Primeiro Presidente da nação, a 24 de abril de 1990, pelo Soviete Supremo. Único líder do país desde então, tornou-se um político independente, sem afiliação partidária, em 1991, para depois tornar-se membro do Partido Popular Democrático, em 1999, onde permanece até hoje. 

    Com uma história de lutas, contingências e controvérsias que se confunde com a história do país, é provável que Nursultan Nazarbayev jamais deixe a presidência. Tomando posição ao lado da Ucrânia, em 2014, durante a crise com a Federação Russa, a mediação do presidente cazaque parece ter sido recebida de forma positiva pelas partes conflitantes. Com uma agenda que prioriza o desenvolvimento, atualmente, o presidente Nazarbayev é um dos principais responsáveis pela Estratégia Cazaque 2050, que visa, a longo prazo, situar o Cazaquistão entre os trinta países mais desenvolvidos do mundo. 

    O futuro, para o Cazaquistão, ao menos na teoria, parece auspicioso e promissor. No entanto, no atual cenário conturbado que restringe liberdades sociais, viola direitos civis básicos, e vê como legítima a prática da tortura, realizada de forma rotineira contra dissidentes políticos ou cidadãos que violam leis irrisórias e deliberadamente restritivas, o governo cazaque demonstra em suas ações o clássico erro governamental de olhar demais para o futuro, sem cuidar do presente. Equívocos de uma geração socialista, muito bem conjugada, conformada e educada na envergadura dos preceitos e ditames soviéticos, de modo que hoje são todos homens de estado incapazes de perceber ou reconhecer a completa e total ausência de benefícios, da parte de governos totalitários, para a concretização da felicidade e da prosperidade humana. De qualquer maneira, para homens dessa categoria, o que interessa, afinal, é manter-se no poder.