CAMPO GRANDE (MS),

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    13/12/2015

    Carlos Miranda, Um Exemplo Clássico de Vida que Imitou a Arte - Entrevista Exclusiva a Lino Tavares

    ator Carlos Miranda

    O entrevistado da série é o ator Carlos Miranda, um ícone das artes cênicas, que despontou em pleno limiar da televisão brasileira, na década de 1960, representando o papel de "Inspetor Carlos", no seriado "O Vigilante Rodoviário", criado e dirigido pelo cineasta Ary Fernandes, na TV Tupi Canal 4. Vivendo esse personagem , considerado o primeiro Super Herói brasileiro, atuando com seu fiel "Cão Lobo", Carlos Miranda escreveu uma página de ouro de nossa dramaturgia, que traz no contexto o fato inédito de ter sido o único ator no mundo a ter assumido na vida real o personagem vivido na ficção, como pode ser visto a seguir, no texto de sua biografia. 

    Primeiros Passos 

    Carlos Miranda, ator do primeiro seriado filmado em película para televisão da América Latina, nasceu em São Paulo capital, no dia 29 de Julho de 1933. Começou sua carreira como cantor de circo aos 15 anos, logo em seguida indo trabalhar nas empresas Maristela e frequentando o Teatro popular do SESI onde teve aulas de artes cênicas , estreando na peça “O ídolo das Meninas” de Gastão Tojeiro, levada no teatro Colombo no Largo da Concórdia em São Paulo, hoje Praça da Concórdia – o teatro já não existe mais. Trabalhou nos estúdios da Maristela no Jaçanã até o seu fechamento. De lá saíram os equipamentos para a montagem do primeiro estúdio de dublagem de filmes estrangeiros do Brasil; e foi lá que conheceu Ari Fernandes e Alfredo Palácios que viriam a ser o diretor e o produtor da série “O Vigilante Rodoviário”.

    A TV e o Cinema

    Carlos foi escolhido como protagonista entre mais de 120 candidatos. O seriado “O Vigilante Rodoviário” era patrocinado pela Nestlé , e já no primeiro mês de exibição disparou na frente dos concorrentes para se tornar campeão de audiência com a expressiva marca de 67%. Na época como só 30% das casas possuíam televisão, isso significa quase 90% se fosse hoje. Por causa disso, o produtor e o diretor resolveram transformar cada 4 episódios em um filme longa metragem e lançar no cinema, pois em quase todas as cidades do país havia uma sala de projeção. O lançamento foi no Cine Art-Palácio em São Paulo, resultando num grande sucesso de bilheteria no Brasil inteiro. Muitos atores hoje famosos começaram suas carreiras participando da série, entre eles: Rosamaria Murtinho, Fulvio Stefanini, Juca Chaves, Ari Toledo, Ari Fontoura, Milton Gonçalves, Luiz Guilherme, etc...

    Da Ficção para a Realidade 

    O Inspetor Carlos ficou tão conhecido que o ator Carlos Miranda foi convidado a entrar na Polícia Rodoviária de São Paulo em 1965, onde ingressou após prestar concurso e cursar a Academia Militar do Barro Branco. Foi para a reserva em 1990 como Tenente-Coronel. O cão Lobo morreu em 1971. Em 1992, Carlos Miranda foi citado no Livro dos Recordes (Guinness Book) como sendo o único ator a se tornar na realidade o personagem que havia interpretado na ficção.

    Atualidade

    Hoje Carlos Miranda reside em Águas da Prata – SP e participa de Encontros de Carros Antigos por todo o país, resgatando a memória da TV e cinema brasileiros, e também leva a universidades, escolas, empresas e comemorações cívicas, em forma de palestras, o trabalho que a Polícia Militar do Estado de São Paulo desenvolve em prol da população. O sucesso da série com apenas 38 episódios filmados e dois anos no ar pela TV Tupi, e TV Cultura, sua nítida recordação até hoje pelos fãs com mais de 45 anos de idade, é um fenômeno digno de estudos na área de marketing e publicidade, bem como nas de sociologia, psicologia e antropologia. A reprise da série pela Rede Globo em 1976, e recentemente pelo Canal Brasil, aumentou ainda mais o número de fãs que hoje podem se orgulhar de ter um herói genuinamente brasileiro tendo a mesma emoção que seus pais e avós tiveram há mais de 50 anos atrás.


    Carlos Miranda Responde

    Ser ator foi para você fruto de um dom ou de uma opção profissional?
    R: Aos 12 anos já sentia vontade de representar.Junto com um amigo improvisávamos um “cirquinho” e imitávamos palhaços e malabaristas, cobrando botões como ingresso. Nasci para isso mesmo... 

    Quando despertou em você a consciência de que queria ser ator? 
    R: Desde essa época .

    Quando seus familiares souberam que você decidiu ser ator, ficaram surpresos ou já estavam conscientes de sua vocação?
    R: Meu pai morreu muito cedo, eu trabalhava para ajudar na casa. Minha família sempre me apoiou no que eu decidisse fazer.

    Você se inspirou, na carreira de ator, em algum personagem famoso das artes cênicas?
    R: Na época era só cinema. Havia vários filmes com super heróis, mas nenhum me inspirou significantemente .

    Embora seu grande momento tenha sido na televisão, você também fez teatro e cinema?
    R: Na verdade eu comecei no Teatro Popular do SESI em SP. Minha primeira peça foi “ O Ídolo das Meninas” de Gastão Tojero no Theatro Colombo no Brás. Antes do “Vigilante” participei de vários filmes da Cinematográfica Maristela como coadjuvante e auxiliar de produção.

    No auge do sucesso do seu personagem Inspetor Carlos em "O Vigilante Rodoviário", você já sentia vocação para exercer a atividade na vida real? 
    R: Ser ator foi uma realização artística e como policial uma vocação profissional. 

    Você sempre foi bom para decorar textos, ou usa algum mecanismo próprio nesse sentido?
    R: Eu treinava na frente do espelho. Repetia tudo várias vezes.

    Você acha que as artes cênicas evoluíram ou perderam qualidade de meados do século passado para cá?
    R: Minha visão é que melhoramos muito na interpretação, mas a técnica evoluiu muito mais.

    Na sua opinião, o Brasil pode ser considerado um dos melhores lugares do mundo para o exercício da profissão de ator?
    R: Infelizmente não, mas ainda vamos melhorar muito.

    Você encontrou algum tipo de dificuldade para exercer sua atividade de ator durante o "Regime Militar"?
    R: Nunca. Arte e política ao meu ver são setores que não se misturam.

    Além do papel de Vigilante Rodoviário, que outros personagens marcaram sua carreira de ator?
    R: Fiz muitos pequenos papéis no cinema e no teatro e como diretor de produção trabalhei no épico nacional “Independência ou Morte”.

    Onde você conquistou mais amigos, no meio artístico ou na atividade de policial rodoviário?
    R: Tanto numa como noutra, fiz ótimos amigos. 

    Alguma vez você já sentiu atração fatal por alguma colega com quem contracenou?
    R: na vida artística é comum vc encontrar pessoas com que gostaria de viver, mas comigo o destino ditou outro caminho.

    Você acredita que o beijo em cena possa existir apenas tecnicamente, sem despertar nenhum tipo de sensação?
    R: Na minha opinião, o beijo técnico só existe qdo não há atração.

    Você acha que casamento de ator com atriz tem tudo para dar errado, por causa do ciúme nas cenas picantes, ou isso não tem nada a ver?
    R:.. Qualquer relacionamento depende do grau de entendimento entre ambos. No ambiente artístico há razões q. a própria razão desconhece.

    O fato de o cinema brasileiro nunca ter sido premiado com um Oscar você considera um injustiça ou acha que ainda está faltando algo para a gente chegar lá?
    R:. Nosso cinema já recebeu vários prêmios internacionais, mas o Oscar depende de vários fatores, principalmente de política interna do meio.

    Você já foi contemplado com algum prêmio no mundo do cinema ou da televisão?
    R: Já recebi o maior premio do cinema nacional, o Roquete Pinto, o Oscar brasileiro.

    Quem você elegeria como os maiores atores e atrizes brasileiros de todos os tempos?
    R: Laura Cardoso, Lima Duarte, Paulo Autran, entre outros. São tantos....

    Tendo vivido a atividade de policial na ficção e na realidade, você acredita que a arte imita a vida ou é a vida que imita a arte?
    R: Na minha vida a vida imitou a arte.

    Você compactua com a tese de que as cenas de violência contribuem de alguma forma para o mundo violento em que vivemos hoje?
    R: Infelizmente determinados programas, sim, mas eu acredito no ditado que diz: País com poucas escolas precisa de mais presídios”.

    Você é contra ou a favor da legalização da maconha? 
    R: A princípio contra.

    O Ministério da Cultura, no seu modo de ver, tem sido importante para o desenvolvimento das artes ou deixa a desejar nesse aspecto?
    R: No nosso país, agora, infelizmente serve para artista comprar apto em Paris, receber dinheiro para fazer show e dar emprego para “cumpanheirada”.

    Você acredita que o Brasil possa sair da crise atual como o fisiologismo político que hoje domina os três poderes da República?
    R: Só com muita vontade do povo em se erguer uma luta conjunta. Espero ver isso logo. Se não “não dará mais tempo”... rsrsrsrsrrs 

    “Bate Bola” com Carlos Miranda 

    Um grande amigo? Lafaette

    Gratidão? Meu trabalho

    Momento inesquecível? Formatura de meus filhos e netos.

    Maior alegria vivida? A nascimento da prole

    Sonho realizado? Os prêmios recebidos 

    Sonho a realizar? Ver o Brasil no primeiro mundo 

    Uma decepção? Meu país sucateado.

    Grata surpresa? O São Paulo campeão.

    Uma superstição? Bolsa no chão...

    Religião? Espírita.

    Cor preferida? Azul

    Número de sorte? 75

    Prato preferido? Pudim de leite

    Principal Hobby? Assistir bons filmes antigos.

    Time do coração? SÃO PAULO

    Político confiável? Cel Telhada.

    Cantor ou cantora de todos os tempos: 
    Nacional? Elis Regina 
    Internacional? Domenico Modugno

    Personalidade de todas as épocas: 

    Nacional? Laudo Natel 

    Internacional? Gandhi 

    Quem é Carlos Miranda? Um trabalhador do cinema e TV.... simplesmente... 

    Projetos? Poder contribuir para que meu país melhore .

    Considerações finais 

    Acho que foi tudo dito. Obrigado pela oportunidade e atenção. 

    Páginas Oficias e Contatos com Carlos Miranda