O líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias (PSDB-PR), apresentou às 19h02 à Mesa Diretora da Casa o requerimento para a instalação da CPI dos Transportes, que buscará investigar, em um prazo de 180 dias, denúncias envolvendo o setor de transportes, suspeitas de superfaturamento e pagamento de propina por meio de empreiteiras. Das 27 assinaturas necessárias para a criação do grupo de trabalho, 11 foram dadas por integrantes de partidos da base governista.
"Tem gente contrariada na base governista. A CPI é um movimento de chantagem. Que venha a CPI, foi a presidente Dilma quem começou a investigar. Essa CPI está vindo não para investigar, mas para constranger", disse o senador Lindbergh Farias (PT-RJ).
Apesar do encaminhamento do pedido de instalação da CPI à Mesa, a leitura do requerimento só será feita nesta quarta-feira, o que significa que a tropa de choque do Palácio do Planalto buscará até as 0h de amanhã convencer senadores que assinaram a retirarem seus apoiamentos ao grupo de investigação. Se consolidada, a CPI terá 13 titulares e sete suplentes para a realização dos trabalhos.
"Temos a convicção de que muito dificilmente conseguirão convencer alguém de retirar a assinatura até porque todos que assinaram pensaram muito antes de assinar, pensaram bastante e assinaram até por uma questão de dignidade. Há ainda um espaço de indignação na base aliada do governo. Afinal, passa a idéia que há aqui um mar de lama na Esplanada dos Ministérios, em Brasília. As denúncias se sucedem e é preciso dar um paradeiro a isso", disse Alvaro Dias.
Mesmo após o senador e ex-ministro dos Transportes Alfredo Nascimento (PR-AM) fazer uma defesa pública de sua gestão no governo Dilma Rousseff e rejeitar as acusações de irregularidades ou corrupção cometidas por ele à frente da pasta, a oposição conseguiu angariar as últimas quatro assinaturas necessárias para a criação da CPI dos Transportes.
Pela oposição, assinaram o pedido de instalação do grupo os tucanos Aécio Neves, Aloysio Nunes Ferreira, Alvaro Dias, Ataídes Oliveira, Cícero Lucena, Cyro Miranda, Flexa Ribeiro, Lúcia Vânia, Mário Couto e Paulo Bauer; os representantes do Democratas Demóstenes Torres, Jayme Campos, José Agripino, Maria do Carmo Alves; os senadores Randolfe Rodrigues e Marinor Brito, do Psol.
Como integrantes da base governista, assinaram o requerimento pró-CPI Ana Amélia Lemos e Reditário Cassol, do PP; Zezé Perrella, Pedro Taques e João Durval, do PDT; Sérgio Petecão, do PMN, Jarbas Vasconcelos, Roberto Requião, Ricardo Ferraço e Pedro Simon, do PMDB, além de Kátia Abreu, sem partido.
A crise no Ministério dos Transportes
Uma reportagem da revista Veja do início de julho afirmou que integrantes do Partido da República haviam montado um esquema de superfaturamento de obras e recebimento de propina por meio de empreiteiras dentro do Ministério dos Transportes. O negócio renderia à sigla até 5% do valor dos contratos firmados pelo ministério sob a gestão da Valec (estatal do setor ferroviário) e do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit).
O esquema seria comandado pelo secretário-geral do PR, Valdemar Costa Neto. Mesmo sem cargo na estrutura federal, ele lideraria reuniões com empreiteiros e consultorias que participavam de licitações do governo no ramo.
O PR emitiu nota negando a participação no suposto esquema e prometendo ingressar com uma medida judicial contra a revista. Nascimento, que também negou as denúncias de conivência com as irregularidades, abriu uma sindicância interna no ministério e pediu que a Controladoria-Geral da República (CGU) fizesse uma auditoria nos contratos em questão. Assim, a CGU iniciou "um trabalho de análise aprofundada e específica em todas as licitações, contratos e execução de obras que deram origem às denúncias".
Apesar do apoio inicial da presidente Dilma Rousseff, que lhe garantiu o cargo desde que ele desse explicações, a pressão sobre Nascimento aumentou após novas denúncias: o Ministério Público investigava o crescimento patrimonial de 86.500% em seis anos de um filho do ministro. Diante de mais acusações e da ameaça de instalação de uma CPI, o ministro não resistiu e encaminhou, no dia 6 de julho, seu pedido de demissão à presidente. Em seu lugar, assumiu Paulo Sérgio Passos, que era secretário-executivo da pasta e havia sido ministro interino em 2010.
Além de Nascimento, outros integrantes da pasta foram afastados ou demitidos, entre eles o diretor-geral do Dnit, Luiz Antônio Pagot, o diretor de Infraestrutura Rodoviária do Dnit, Hideraldo Caron - único indicado pelo PT na direção do órgão -, o diretor-executivo do Dnit, José Henrique Sadok de Sá, o diretor-presidente da Valec, José Francisco das Neves, e assessores de Nascimento.
Fonte: terra/notícias
Por: Laryssa Borges