CAMPO GRANDE (MS),

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    14/08/2017

    ARTIGO| "Em defesa da mulher"

    Por: Pedro Chaves*
    Dirijo-me a você leitor e leitora para refletir sobre a crescente onda de violência contra a mulher. O que está ocorrendo é uma verdadeira tragédia humana. Vidas são ceifadas e o Estado brasileiro continua omisso. 

    Estou muito contrariado com essa situação. O Brasil e o Mato Grosso do Sul não merecem vivenciar um momento triste como esse. Não estamos em guerra, claro, mas o Mapa da Violência de 2015 indica que 4,8 mulheres são assassinadas a cada grupo de 100 mil. Esse número coloca o Brasil no 5º lugar no ranking de países nesse tipo de crime. 

    Ademais, o agressor, na maioria das vezes, é um conhecido (61% dos casos). Em 35% das agressões, eram companheiros atuais das vítimas ou ex-companheiros. De um total de 12 milhões de mulheres, conforme pesquisa do Datafolha, de 2016, 10% sofreram ameaça de violência física, 8% ofensa sexual, 4% ameaça com faca ou arma de fogo. E ainda: 3% ou 1,4 milhões de mulheres sofreram espancamento ou tentativa de estrangulamento e 1% levou pelo menos um tiro.

    Mato Grosso do Sul, infelizmente, tem dado parcela de contribuição para o aumento da violência contra as mulheres. Não são poucos os casos. Provavelmente o covarde assassinato da ex-prefeita de Mundo Novo, Dorcelina Folador, em 2011, seja o mais conhecido. Só que todo dia ficamos informados que a violência continua solta. 

    Vejamos o caso da covarde violência contra Mayara Amaral, assassinada em Campo Grande, no início deste mês, por seu namorado. As marteladas desferidas na cabeça por seu assassino enterraram sonhos de uma jovem professora de violão com mestrado em música. 

    A cultura da minha cidade ficou órfão porque a voz e o violão de Mayara se calaram. Só que ela não foi a única. Em média, em Mato Grosso do Sul, três mulheres são mortas todo mês pelo ex ou atual companheiro, seja ele marido ou namorado. 

    Ainda este ano também causou perplexidade o assassinato de Pâmella Jennifer, de 32 anos, morta a tiros pelo ex-marido, enquanto trabalhava. Por três vezes, ela entrou com pedidos de medida protetiva, mas acabou desistindo das referidas na tentativa inglória de continuar mantendo o seu desgastado relacionamento.

    Como Pâmella, outras 5.850 mulheres denunciaram algum tipo de violência doméstica no meu estado. Na verdade, uma mulher foi agredida a cada 90 minutos nos últimos 12 meses em Mato Grosso do Sul. A violência contra a mulher se apresenta de diversas formas, desde psicológica até estupro e cárcere privado. 

    Entre março de 2015 e julho deste ano, segundo registros da Secretaria Estadual de Justiça e Segurança Pública e do Ministério Público Estadual levantados pela Rede de Controle da Gestão Pública, de Mato Grosso do Sul, ocorreram 148 casos definidos como feminicídios ou tentativas. Desse total, 44 foram consumados e 67 tentados. Em 59 casos houve condenação e em apenas 8 os acusados foram absolvidos.

    Não é raro o caso de mulher agredida que não denuncia o agressor por medo de ser assassinada, dos filhos sofrerem as consequências ou perder a guarda deles. Além do medo, a dependência emocional, a dependência financeira e até mesmo a vergonha inibe a denúncia de seus agressores. 

    Abomino qualquer tipo de violência. Nada justifica que homens e mulheres sejam agredidos. No caso das mulheres não interessa as roupas que usa ou se consome ou não bebida alcoólica. As opções políticas, estéticas, culturais e outras não tornam a mulher mais ou menos vítima. 

    Chega do discurso de culpabilização. Ele continua alimentando o silêncio e a vergonha das vítimas de violência. Homens e mulheres nasceram para brilhar e não para serem mortos como se a vida não tivesse nenhum valor. 

    Por uma cultura de paz e o fim de todo tipo de preconceito! Que o Estado brasileiro faça todo esforço possível para acabar com a violência, inclusive e principalmente contra as mulheres.

    *Senador da República


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