CAMPO GRANDE (MS),

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    12/06/2017

    PSDB permanecerá no governo Temer, diz José Serra após reunião do partido

    Partido tem 4 ministérios, mas relação com o governo estremeceu após delações da JBS envolverem presidente. Uma ala da sigla defendia a saída imediata do governo e outra, a permanência.

    PSDB se reúne para decidir se permanece em apoio ao governo © Reprodução
    O senador tucano José Serra (SP) anunciou na noite desta segunda-feira (12), durante reunião da comissão executiva do PSDB em Brasília, que o partido permanecerá no governo Michel Temer.

    Além dos integrantes da Executiva Nacional, também estiveram presentes à reunião os quatro ministros do partido, deputados, senadores, governadores – entre os quais Geraldo Alckmin (SP), Beto Richa (PR), Simão Jatene (PA) e Marconi Perillo (GO) –, prefeitos de capitais – incluindo João Doria (São Paulo) e Arthur Virgílio Neto (Manaus) – e dirigentes regionais.

    De acordo com o senador tucano, que foi ministro das Relações Exteriores, o partido "não fará nenhum movimento agora no sentido de sair do governo". Segundo ele, a decisão tomada é que os quatro ministros tucanos permanecerão no governo.

    O PSDB detém o comando dos ministérios de Relações Exteriores, Secretaria de Governo, Cidades e Direitos Humanos e é um dos principais aliados do governo no Congresso.

    "O Keynes, que foi o maior economista do século passado, tem uma frase que eu uso sempre: 'Quando os fatos mudam, eu mudo de opinião'. Você faz o quê? Se os fatos mudarem, há outras análises", afirmou Serra a jornalistas, que aguardavam o fim da reunião do lado de fora.

    A relação entre o partido e o governo sofreu um abalo depois que surgiram as acusações feitas de executivos da JBS envolvendo o nome do presidente. Investigado pela Operação Lava Jato, Temer é alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) corrupção passiva, obstrução à Justiça e organização criminosa. Há ainda a expectativa de que o Ministério Público Federal apresente uma denúncia contra ele nas próximas semanas.

    Divisão interna

    Diante da crise política, o PSDB sofreu uma divisão interna. Há uma ala, especialmente entre os parlamentares mais jovens da legenda, que pressiona pela saída do governo.

    A discussão sobre eventual desembarque vem sendo ensaiada há várias semanas, mas acabou adiada devido às pressões internas de tucanos contrários. A reunião da cúpula do PSDB, prevista para a semana passada, chegou a ser postergada a fim de se esperar o julgamento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na última sexta-feira, no qual a chapa Dilma-Temer foi absolvida das acusações de irregularidades na campanha eleitoral de 2014.

    Apesar do resultado favorável a Temer, os descontentes com a aliança entendem que o partido não deveria levar isso em conta.

    Relator da reforma trabalhista no Senado, o senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES), é um dos que defendiam que o partido entregasse os cargos no Executivo. Para ele, as denúncias contra Temer são “devastadoras” e comprometem o andamento das reformas no Congresso.

    “Todo tempo do governo será dedicado à sua defesa [...] Os fatos indicam que o partido [PSDB] deve entregar os cargos para que a gente possa lutar pelas reformas”, disse.

    Estratégia

    Para Temer, a permanência dos tucanos na base aliada seria importante não só pela sustentação política, mas também porque o PSDB é um dos principais apoiadores do governo na aprovação das reformas enviadas pelo Planalto para o Congresso.

    Segundo o colunista do G1 e da GloboNews Gerson Camarotti, o presidente licenciado do PSDB, Aécio Neves, afastado do Senado por ordem do Supremo, articulou a permanência da legenda na base governista.

    Em troca, Aécio está de olho no apoio do PMDB no Conselho de Ética do Senado, a fim de salvar seu mandato em caso de eventual processo por quebra de decoro. Ele foi denunciado ao STF por corrupção passiva e obstrução da Justiça.

    De acordo com o Blog da Andréia Sadi, interlocutores de Michel Temer também têm sinalizado com o apoio do PMDB à candidatura tucana nas eleições presidenciais de 2018.

    Há duas semanas, Temer procurou o governador Geraldo Alckmin para pedir a ele que desmobilizasse a debandada do PSDB de São Paulo.


    Por Fernanda Calgaro e Gustavo Garcia, G1, Brasília
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