CAMPO GRANDE (MS),

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    22/05/2017

    OPINIÃO| A República Federativa da Corrupção

    Entenda porque o BNDES deve ser extinto 

    Com verbas do BNDES, a JBS arregimentou favoritismo e protecionismo estatal, conseguindo hegemonia no mercado interno, e posteriormente, estabelecendo-se também no exterior. © Divulgação
    Depois dos recentes escândalos, envolvendo o presidente em exercício Michel Temer, o senador do PSDB Aécio Neves, e os irmãos Wesley e Joesley Batista, da JBS, ficou muito evidente como funciona o oligárquico cartel protecionista apregoado pelo BNDES, e como as empresas favorecidas pelas verbas bilionárias do banco estatal tornaram-se grandes monopólios de mercado nos segmentos em que atuam. Funcionando como o eixo axial de um grande suporte transnacional de oligopólios mercantis, o BNDES tornou-se o cofre particular de meia dúzia de empresários e políticos corruptos, que utilizam-se de sua monumental estrutura para dominar o mercado, e enriquecer de forma descomunal. Neste recente escândalo, aparentemente, o pagamento de propinas – que apenas a Aécio, seria de dois milhões – tinha por objetivo comprar o silêncio dos envolvidos a fim de evitar delações premiadas. O magnata Joesley Batista, um dos proprietários do grupo JBS, teria gravado a conversa que teria implicado o presidente Michel Temer, que, além de conhecimento, demonstra completa conivência e condescendência com o esquema revelado. Imediatamente, um inquérito foi instaurado na Operação Lava Jato para investigar o atual presidente da república. 

    Aécio e Temer, envolvidos no esquema, foram delatados pelos irmãos Wesley, proprietários da JBS © Divulgação 

    O pagamento a Aécio teria sido feito em duas ocasiões, através de um intermediário, um primo do senador, chamado Frederico Pacheco. O primeiro pagamento teria ocorrido no dia 12 de abril, e o segundo, uma semana depois, no dia 19. Ambos foram realizadas na sede da JBS, em São Paulo. A irmã de Aécio foi presa, igualmente implicada nas transações corruptas do senador. O pagamento de propinas também envolvia Eduardo Cunha, que encontra-se preso desde final do ano passado. 

    Não obstante, ainda que os investigados tenham sido implicados no esquema, e devidamente responsabilizados, e portanto, terão de responder perante a lei pelas contravenções em que envolveram-se, poucas referências tem sido feitas concernente ao papel do BNDES, como a instituição a fomentar o virtuoso manancial de monopólios, que imbuiu com um gigantesco arcabouço financeiro algumas empresas favorecidas com as benesses do protecionismo governamental, dos quais a JBS vem a ser uma das integrantes. Nos últimos dez anos, o conglomerado, que possui inúmeros frigoríficos no Brasil e no exterior, aumentou o seu faturamento em mais de 40 vezes, o que teria sido improvável sem o favoritismo do banco estatal. Agora, com mais este escândalo emergindo da repulsiva imundície da esfera federal de governo, torna-se cada vez mais visível o fato de que tudo gravita em função do dinheiro. Para isto, torna-se evidente que quem manda no governo, de fato, são as grandes empresas. Multinacionais, megacorporações e conglomerados transnacionais, através de contatos muito bem arranjados, posicionam-se nos eixos centrais do governo federal, pagando propinas para conseguirem favores, protecionismo mercantil e consolidação de monopólio, para que seu produto tenha precedência no mercado. Assim, a empresa enriquece vultuosamente, ficando em débito com os políticos e com os servidores públicos que lhe propiciaram primazia; em troca, estes lhes favorecem com robustas e generosas propinas milionárias, em um esquema ilícito que sufoca o livre mercado e a concorrência, para que seus avatares tornem-se soberanos incontestes no segmento em que atuam. 

    Indubitavelmente, mente descaradamente quem afirma que o BNDES não tem conhecimento algum destas atividades. A instituição não apenas é condescendente, como participa ativamente deste implacável processo de consolidação de monopólios. Como um banco estatal no qual é possível fraudar auditorias e licitações, compreendemos como é possível para o estado ligar-se íntima e ilicitamente com a iniciativa privada, através de acordos escusos que beneficiarão a ambos. Resta saber quando e como – e se – o BNDES, bem como os principais líderes da instituição, serão implicados nos escândalos que invariavelmente comprometem o banco estatal. Agora, mais do que nunca, torna-se tão fundamental quanto propício apontar o BNDES como o órgão facilitador da corrupção no país. 

    O recente escândalo envolvendo o atual presidente da república Michel Temer, Eduardo Cunha, os irmãos Batista, e o senador Aécio Neves, bem como sua irmã e seu primo, evidenciam não apenas a fragilidade do sistema, mas como tornou-se extremamente fácil corrompê-lo. Na República Federativa da Corrupção, órgãos fiscalizadores não possuem serventia alguma. Afinal, também podem ser comprados. Tudo em nome dos cartéis mercantis que consolidam-se com as benesses do governo. 


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