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    19/09/2016

    OPINIÃO| Os Testes Nucleares da Coreia do Norte

    Kim Jong-un têm governado a Coreia do Norte desde a morte de seu pai, Kim Jong-il, em 28 de dezembro de 2011.

    Dizer que Kim Jong-un, o supremo líder da Coreia do Norte governa o seu país com mão de ferro é proferir uma afirmação tão desnecessária quanto hiperbólica e ingênua: na verdade, ele governa a Coreia do Norte como um egocêntrico, sardônico e furibundo garoto imaturo, que sofre com um evidente, crônico e possessivo transtorno de personalidade histriônica. Como ele tem que ter tudo o que quer, a hora que quer, quando quer, da forma que quer, da maneira que quer, do jeito que quer, com todas as pessoas ao seu redor usufruindo da obrigação de estarem plenamente dispostas a servi-lo apenas e tão somente no nível máximo da excelência absoluta – e não exatamente, digamos, por escolha própria, mas porque esta vem a ser uma saudável maneira de evitar o pelotão de fuzilamento, ou uma execução ainda mais indesejável – o que temos em Kim Jong-un não é a figura de um governante, tampouco de um líder, menos ainda de uma personalidade política ágil e benemérita, capaz de exercer a diplomacia e a sagacidade. Muito pelo contrário. Kim Jong-un é a personificação mais farsesca, cômica, hilária e caricaturesca de um ditador, e sua vida, sua rotina, seu “governo”, seus mirabolantes planos militares e governamentais, e sua vida pessoal dariam, com toda a certeza, o mais hilariante filme de comédia que você já viu, se sua vida fosse adaptada para o cinema. Como dizem, seria cômico, se não fosse trágico. Absurdamente trágico.
    A propulsão por meio de combustível sólido, ao que tudo indica, foi desenvolvida com sucesso por agentes militares do serviço de inteligência.

    A Coreia do Norte é uma ditadura totalitária stalinista, onde Kim Jong-un, usufruindo de amplos e plenos poderes, pode fazer o que quiser, quando quiser, como quiser, a hora que quiser, da maneira que quiser. Quando um homem visivelmente imaturo, egocêntrico, e de moral questionável têm em suas mãos poderes ilimitados e irrestritos, o resultado não poderia ser mais degradante ou deplorável.

    Além das execuções tão absurdas quanto arbitrárias – Kim Jong-un teria mandado executar um arquiteto em 2014 porque não gostou do projeto idealizado pelo mesmo para o aeroporto de Pyongyang – que podem ocorrer sem aviso prévio e por qualquer motivo, o regime totalitário, evidentemente, é terrivelmente cruel com dissidentes políticos, e não oferece muitas opções para a população, no que diz respeito à diversão, religião, trabalho e muito menos governo. Ao definir a necessidade de um padrão estético, até mesmo os cortes de cabelo, tanto masculino quando feminino, o regime obriga a população a escolher apenas aqueles aprovados pelo estado. Dez modelos diferentes para os homens, e dezoito para as mulheres. Isso até o ditador Kim Jong-un decidir impor o seu corte de cabelo a toda a população masculina do país. O que significa que, se você for norte-coreano, e não usar o seu cabelo raspado nas laterais, e volumoso em cima, penteado para baixo, e dividido nas laterais, você será considerado um indivíduo subversivo pelo estado. E alguém aí ainda pergunta por que razão os norte-coreanos anseiam tanto fugir de seu país? 

    Como se esse festival de absurdos não fosse o suficiente, Kim Jong-un insiste em fazer de seu diminuto país uma potência militar, e quer que o mundo reconheça a Coreia do Norte como tal. Para essa finalidade, inúmeros testes nucleares vêm sendo realizados, em diversas bases militares secretas, existentes em muitas regiões do país.

    A Coreia do Norte continuou a realizar testes
     nucleares, mesmo após sofrer pesadas
     sanções impostas pelas Nações Unidas.  

    Com um teste tendo sido conduzido em janeiro, imediatamente a Rússia e a China – os únicos países, diga-se de passagem, com os quais a Coreia do Norte tem relações internacionais relativamente amistosas – tentaram formalizar um acordo amigável que tentaria suspender os experimentos bélicos nucleares. Como isso não aconteceu, ignorando todos os preceitos da boa diplomacia internacional, a Coreia do Norte decidiu continuar com os testes. Em 22 de junho, o exército norte-coreano realizou um experimento com um míssil desenvolvido pelo setor de inteligência militar, o Hwasong-10, que demonstrou um nível considerável de alcance, o que imediatamente colocou os Estados Unidos em alerta. O míssil tem as bases militares americanas de Guam no alcance da sua trajetória destrutiva. 

    Mais recentemente, em 24 de agosto, outro “experimento militar” viu um míssil balístico lançado de submarino invadir o espaço aéreo japonês. Um dos objetivos primordiais destes testes contínuos é a busca do setor de inteligência pelo desenvolvimento da tecnologia de foguetes de combustível sólido, o que parece, infelizmente, ter sido conquistado com sucesso. Até há pouco tempo atrás, acreditava-se que a Coreia do Norte era capaz de desenvolver apenas mísseis de combustível líquido, o que mostra claramente que a Coreia do Norte não deve, em nenhum momento, ter seu potencial subestimado. 
    O desenvolvimento de novos protótipos de mísseis têm sido uma prioridade da inteligência militar norte-coreana.  

    Há pouco mais de uma semana, no dia 5 de setembro, unidades militares dispararam consecutivamente três mísseis Rodong-1, que teriam percorrido uma trajetória de aproximadamente mil quilômetros, em direção ao Mar do Japão. O evento provocou reações profundamente negativas do governo japonês, que classificou o ocorrido como uma “séria ameaça”. Completamente indiferente à comoção internacional, Kim Jong-un teria expressado “grande satisfação” com o experimento militar. Autoridades governamentais da Coreia do Sul, do Japão e dos Estados Unidos realizaram estimativas para calcular o nível de destruição provável causado por uma bomba atômica desenvolvida pela inteligência militar de Pyongyang, arregimentada em um preciso potencial de destrutibilidade, de acordo com a tecnologia nuclear disponível em território norte-coreano. O resultado final foi estimado em vinte e cinco toneladas de explosivos. 

    Os testes nucleares da Coreia da Norte foram fortemente condenados pela comunidade internacional. China, Austrália, Rússia, Japão, Israel, Cingapura e Estados Unidos, entre outros países, condenaram abertamente as atividades militares realizadas na Coreia do Norte. O departamento de relações exteriores da Rússia alertou para as consequências que o pais invariavelmente terá que enfrentar, caso decida prosseguir em um caminho divergente, “que desafia as normas e as leis internacionais”, contrárias aos “requerimentos estabelecidos pelo Conselho de Segurança da ONU”, e exigiu que o governo norte-coreano abandonasse completamente o seu programa de desenvolvimento nuclear. O Ministério dos Assuntos Externos do governo de Cingapura formalizou um decreto no qual afirmava estar “profundamente preocupado e extremamente desapontado” com o fato do governo norte-coreano ter realizado mais um teste nuclear no dia 9, colocando em risco a estabilidade e a manutenção da paz na região. Enfatizaram ainda, no documento, as resoluções definidas pelas Nações Unidas, no que tange o regulamento de armamentos nucleares. A Casa Branca, nas palavras do presidente Barack Obama, foi ainda mais incisiva e incondicional: o presidente dos Estados Unidos afirmou que jamais aceitará a Coreia do Norte como um estado nuclear, expondo as flagrantes e deliberadamente provocativas, belicosas e arrogantes atitudes do ditador Kim Jong-un, salientando o desprezo e a falta de interesse do país em ser um membro ativo e produtivo da comunidade internacional, voltado para a produção e construção de benefícios de caráter global. 

    Realizando testes nucleares a aproximadamente dez anos, é evidente que, com um exército incrivelmente articulado e poderoso à sua disposição, um lunático egocêntrico, pérfido, sardônico e ensimesmado como Kim Jong-un, não possui interesse nenhum a não ser adquirir o respeito do mundo por meio da constante exibição de seu poderio militar. Não obstante, no processo, em seu exacerbado egocentrismo, em sua infantil visão de mundo e em sua diminuta percepção de realidade, tendo evidentemente o nível de conhecimento de uma ratazana, a inteligência de um sapato e a capacidade de raciocínio de uma bergamota, o ditador norte-coreano esquece que o mundo o ridiculariza, o satiriza, o ironiza e se diverte a valer com sua rechonchuda e cômica presença de palco, o que faz dele uma fonte constante de humor e diversão para o mundo ocidental. Em sua desmesurada, hilariante e irrisória busca por respeito, o ditador norte-coreano acabou não angariando nenhum. 

    Na verdade, visto pelo mundo como um coitado desesperado por atenção, Kim Jong-un é um galhofeiro traquinas folgazão, ridicularizado diariamente no ocidente. Kim Jong-un só não é ridicularizado pelos próprios norte-coreanos porque, evidentemente, qualquer um que ironizar ou ridicularizar o “grandioso líder” acabará sendo executado. 

    O que acontece hoje na Coreia do Norte é o irrevogável e inevitável resultado de conceder poderes ilimitados para um homem que pensa, age e raciocina como uma criança mimada de cinco anos de idade. Fora da Coreia do Norte, ninguém leva Kim Jong-un a sério. E na Coreia do Norte, ele é levado a sério por seus conterrâneos porque os mesmo são obrigados a isso, caso contrário correrão risco de morte. Excetuando-se a obrigatoriedade, o único homem sobre a face da Terra que leva Kim Jong-un a sério – por livre e espontânea vontade – é o próprio Kim Jong-un.