CAMPO GRANDE (MS),

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    09/07/2016

    Deputados intensificam negociação para a eleição do sucessor de Cunha

    Planalto atua para definir nome de consenso; PT não descarta apoio ao DEM. Políticos passaram o sábado em conversas; disputa já tem 6 candidatos.

    Divulgação/Arquivo

    As negociações em torno da disputa pelo comando da Câmara dos Deputados se intensificaram neste sábado (9). Em Brasília, líderes partidários, potenciais candidatos e emissários do presidente em exercício, Michel Temer, passaram o dia em conversas na tentativa de definir os nomes que concorrerão no pleito, marcado para esta semana. Até o momento, seis deputados se candidataram oficialmente (leia mais abaixo).

    Se de um lado o governo articula, nos bastidores, a escolha de um nome de consenso que evite um racha na base aliada, do outro o PT admite apoiar um candidato do DEM para tentar enfraquecer a candidatura de aliados do deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ.

    A corrida pela presidência, que estava limitada a conversas de bastidores nas últimas semanas, foi deflagrada oficialmente quando Cunha (PMDB-RJ) renunciou ao comando da casa legislativa.

    Entre os auxiliares de Temer, a ordem oficial é para ninguém do governo interferir, publicamente, no processo de eleição do novo presidente da Câmara para evitar fissuras incontornáveis entre os partidos aliados.

    De qualquer forma, os ministros palacianos Eliseu Padilha (Casa Civil) e Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo) estão acompanhando com lupas as movimentações dentro da base aliada.

    Assessores de Temer admitem, sob a condição de anonimato, que “ninguém pode ser ingênuo de achar que o governo não está se movimentando".

    Conforme relatos, Temer não tem um preferido para suceder Cunha, mas auxiliares dele veem “com simpatia” alguns possíveis candidatos. Entre eles, estão os deputados Rogério Rosso (PSD-DF) – que presidiu a comissão especial do impeachment na Câmara e é tido como aliado de Cunha – e José Carlos Aleluia (DEM-BA).

    Rosso é visto, dentro do palácio, “com ainda mais simpatia”, uma vez que, na avaliação de auxiliares de Temer, ele tem “bom trânsito” entre as principais lideranças da Câmara e tem “baixo índice de rejeição”.

    Além disso, os palacianos consideram que o líder do PSD conduziu "bem" os trabalhos da comissão especial que analisou o processo de impeachment de Dilma Rousseff e que ele não tem a imagem ligada “aos velhos caciques”.

    Neste sábado, Rosso admitiu à repórter Andreia Sadi, da GloboNews, que deve bater o martelo sobre a sua candidatura após conversar com seus familiares. Segundo o G1 apurou, ele quer anunciar oficialmente que vai concorrer ao comando da Câmara na véspera da votação.

    Com isso, ele poderia ganhar mais tempo para negociar sua candidatura nos bastidores e aguardar uma definição sobre quais – e quantos – deputados ligados ao Planalto concorrerão ao cargo.
    O líder do PSD, Rogério Rosso (DF), é um dos principais candidatos à presidência da Câmara (Foto: Nilson Bastian/Câmara dos Deputados)

    Apoio ao DEM

    Do outro lado da disputa, outro nome ganhou força neste sábado: o do deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ). Apesar de integrar o governo Temer, o DEM busca apoio de diferentes partidos, inclusive de oposição, para lançar o candidato oficialmente.

    O partido, que detém o comando do Ministério da Educação, integra um bloco informal dos chamados governistas independentes. Além do DEM, fazem parte do grupo o PSDB, PSB e PPS.

    Mesmo no governo Temer, o partido admite que buscará o apoio de outros partidos na Casa, inclusive de PT, PSOL e PCdoB, que fazem oposição ao peemedebista.

    O líder do partido, Pauderney Avelino (AM), afirmou em entrevista a jornalistas nesta sexta (8) que não descarta o apoio da oposição e defendeu uma candidatura que unifique a Câmara.

    Deputados petistas ouvidos pelo G1 em condição de anonimato admitiram que o partido será coadjuvante na disputa e que não terá um candidato próprio. A tendência, segundo relatos desses parlamentares, é que o partido dará apoio a um nome que tenha condições de ir ao segundo turno.

    Segundo apurou o G1, Rodrigo Maia é um dos nomes preferidos do PT, já que conta com o apoio de partidos com grande número de votos na Casa e, por isso, seria um forte candidato a derrotar Rosso, tido pelo partido como aliado de Eduardo Cunha.
    O deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) deve ter apoio de partidos do governo e da oposição (Foto: Luis Macedo/Câmara dos Deputados)

    O dilema de Temer

    Mantidas as previsões de a eleição do novo presidente da Câmara ocorrer na terça (12), como defendem os líderes partidários, assessores do Planalto dizem que o governo tem até a noite desta segunda (11) para definir quem irá apoiar.

    “Mas não esperem um anúncio oficial. Isso não vai ocorrer”, disse ao G1 um assessor do governo.

    “O que se pode esperar é, após a confirmação do eleito, um movimento do Planalto de procurar o novo presidente e sugerir que os trabalhos sejam feitos em conjunto e em harmonia”, acrescentou o integrante da equipe de Temer.

    Nas últimas semanas, uma romaria de deputados passou a procurar Temer no Palácio do Planalto para pedir a bênção do peemedebista para uma eventual candidatura à presidência da Câmara.

    O movimento, que demonstra inicialmente a ascendência do presidente em exercício sobre sua base aliada, também o coloca em uma situação delicada. Um gesto mal interpretado ou uma ação atribulada e açodada podem gerar ressentimentos em parlamentares e partidos aliados, comprometendo a atual coesão da base.

    Com vasta experiência do funcionamento da Câmara dos Deputados, Temer tem consciência de que sua postura, neste momento, pode manter a harmonia na base governista ou pode deflagrar um racha com consequências imprevisíveis.

    O episódio da eleição do próprio Eduardo Cunha para a presidência da Câmara, no qual atrapalhados articuladores políticos da presidente Dilma Rousseff abriram uma guerra com o PMDB e com os partidos do chamado "Centrão" para tentar eleger o deputado Arlindo Chináglia (PT-SP), transformou praticamente em pó a base aliada da petista.

    Segundo relatos de integrantes do palácio, o presidente em exercício tem respondido a todos deputados que o procuram que eles devem conseguir, antes de mais nada, o apoio de seus partidos para então buscarem a bênção do governo.

    Temer, de acordo com assessores, passará o fim de semana “atento” às movimentações na Câmara dos Deputados, mas não pretende interferir diretamente no processo. A expectativa é de que, até o momento da votação, parte significativa dos atuais 12 pré-candidatos governistas abandonem a disputa.

    Há uma avaliação no Palácio do Planalto de que alguns dos mais de dez possíveis candidatos à presidência da Câmara só colocaram o nome da disputa para pressionar o governo e tentar conseguir, por exemplo, obter cargos no Executivo federal.

    "O Temer tem uma larga experiência política e muito dessa experiência foi construída na Câmara. Ele sabe como funciona a Casa. Quando os deputados decidem, a Câmara segue um curso próprio. Se o governo tentar interferir no processo interno de disputas, pode sair enfraquecido", avaliou ao G1 um interlocutor do presidente em exercício.

    Candidatos

    Até o momento, seis candidatos já formalizaram a participação na eleição prevista para acontecer na próxima semana. Veja quais são:

    Fausto Pinato (PP-SP): advogado, tem 39 anos e está em seu primeiro mandato. Chegou a ser eleito relator do processo contra Cunha no Conselho de Ética, mas foi substituído.
    Carlos Gaguim (PTN-TO): administrador, o deputado de 55 anos também está no primeiro mandato. Foi vereador e deputado estadual no TO. Governou o estado após a cassação do então governador Marcelo Miranda e do vice Paulo Sidnei pelo TSE, em 2009.
    Carlos Manato (SD-ES): médico, o deputado de 58 anos está no quarto mandato. É o atual corregedor da Câmara e já ocupou cargos de suplente na Mesa Diretora.
    Marcelo Castro (PMDB-PI): médico de 66 anos, foi ministro da Saúde do governo da presidente afastada Dilma Rousseff. Como deputado, está no quinto mandato.
    Fábio Ramalho (PMDB-MG): empresário, o deputado está no terceiro mandato consecutivo na Câmara. Ele já foi prefeito do município de Malacacheta (MG), entre 1997 e 2004.
    Heráclito Fortes (PSB-PI): funcionário público, o deputado está no quinto mandato na Câmara. Ex-senador, ele também foi prefeito de Teresina.

    Além deles, dois deputados anunciaram que irão concorrer mas ainda não oficializaram candidatura: a deputada Cristiane Brasil (PTB-RJ), filha do delator do mensalão Roberto Jefferson, e Beto Mansur (PRB-SP), primeiro-secretário da Câmara.



    Do G1, em Brasília
    Por: Filipe Matoso, Gustavo Garcia e Lucas Salomão

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