CAMPO GRANDE (MS),

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    20/06/2016

    Opinião|Drone Wars – A guerra é um negócio altamente lucrativo

    Soldados americanos operam em território afegão.

    Não é segredo algum o fato de que uma das maiores fontes de receita dos Estados Unidos é a guerra. Bom, tecnicamente, em primeiro lugar é a comercialização de armas em diversas escalas. Em segundo lugar, como consequência do comércio de armas em larga escala, é a guerra. O que nos faz ponderar – uma conclusão óbvia, alguns diriam – que a paz é péssima para os negócios.

    Em 2016, os Estados Unidos completou 20 anos de guerra no Afeganistão, o que vem a ser a mais longa guerra na história militar dos Estados Unidos. Tendo começado como uma guerra civil, que posteriormente escalou para tornar-se um conflito armado de proporções épicas, que – a princípio – tinha por objetivo desestabilizar e desmantelar o Talibã, organização terrorista que, juntamente com a Al-Qaeda, era considerada uma das mais significativas forças de oposição aos americanos na região, trouxe consequências drásticas para ambos os lados, o que fez do Afeganistão um conveniente ponto de conflito regional, que transformou-se em uma das maiores e mais longas guerras da história contemporânea. E uma das mais lucrativas também. 

    Há pouco mais de seis meses, quatro pilotos de Drone – veículos militares aéreos para bombardeio não tripulados, operados à distância – utilizados pela força aérea americana diariamente nas áreas de conflito, para operações de bombardeio, ataque-surpresa e destruição de bases terroristas, decidiram falar abertamente para a imprensa americana o que realmente acontece, nos bastidores da guerra. 

    Correndo o risco de serem processados em corte marcial por revelarem abertamente segredos militares, Brandon Bryant, Michael Haas, P.W. Singer e Chris Wallace deram a cara à tapa, e decidiram retirar todo o peso de suas consciências, para revelar ao povo americano as verdades da guerra. As operações de contraterrorismo e os bombardeios operados por drones matam principalmente civis inocentes. Sim, exatamente, civis inocentes: mulheres, crianças e idosos – que, a princípio, são apenas indesejadas e irreparáveis casualidades, meros danos colaterais, cujas mortes não deveriam, de nenhuma forma, maneira ou circunstância, tornarem-se rotineiras, comuns ou aceitáveis –, são mortos diariamente em ataques de drones, operados por pilotos que disparam petardos em sequência, de confortáveis cabines, a uma longa distância, em alguma base militar aérea, nos Estados Unidos. Sob padrões humanitários, ou convenções de guerra, isso jamais seria aceitável. Não obstante, na prática todas as coisas são diferentes, e a vida de civis inocentes não é, senão algo desprezível e descartável, que apenas acrescenta à somatória da mortandade diária em território afegão. Os quatro veteranos foram unânimes em declarar que os drones são eficientes e altamente destrutivas máquinas de guerra, capazes de matar dezenas, centenas, até mesmo milhares de pessoas. Mas frequentemente, mata quem não deveria. E muitas vezes aqueles que deveriam ser mortos, não passam nem perto de tornarem-se alvos. Os ataques operados por drones nada mais fazem do que alimentar o ódio das vítimas, e de seus familiares, sejam eles culpados ou inocentes. E acima de tudo, é uma das maiores e mais efetivas motivações para a propagação do terrorismo, e consequentemente, da violência. E, enquanto houver violência e terrorismo, haverá mercado para material bélico. O que, definitivamente, vem a ser a maior preocupação da grande e poderosa elite americana: vender armas. 
    Drone da força aérea americana em espaço aéreo afegão

    Os rapazes revelaram também que está se tornando cada vez mais comum militares americanos, de diversas patentes, iniciarem o recrutamento de futuros pilotos de drone entre jovens aficionados por videogames, especialmente aqueles com habilidades em jogos eletrônicos violentos, ou de simulações de voo. E o governo americano, há tempo considerável, já estaria encomendando e confeccionando os seus próprios jogos eletrônicos, com módulos, níveis de dificuldade e exigências adaptadas aos padrões das forças armadas. Jogos, estes, devidamente dissimulados como jogos comuns, não muito diferentes destes que garotos adolescentes costumam jogar. Entre os militares, existem olheiros que perambulam por convenções de jogos eletrônicos, e buscam observar entre os jovens aqueles que possuem elevadas e consideráveis habilidades em videogames, tendo por objetivo reconhecer – e se possível seduzi-los com a ideia de um posterior recrutamento – prospectivos pilotos de drone, abordando-os, e prometendo-lhes brilhantes e gloriosas carreiras nas forças armadas, assim que completarem a idade apropriada para o alistamento militar.
    Brandon Bryant, Michael Haas, P.W. Singer e Chris Wallace, combatentes 
    da força aérea americana, denunciam abertamente durante entrevista os crimes de guerra
    que eram obrigados a perpetrar.

    Estes quatro rapazes, que foram corajosos ao se exporem, e revelarem verdades da guerra em primeira mão – embora nada do que tenham dito fosse realmente uma surpresa para quem acompanha de perto a interesseira, insidiosa e pérfida política econômica americana – enviaram uma carta aberta ao presidente Barack Obama, onde expuseram tudo aquilo que testemunharam durante o tempo que serviram no Afeganistão, argumentando como, quando, onde e porquê as intervenções e ofensivas militares – especialmente as que envolvem ataques operados por drones – intensificam ainda mais o terrorismo que o governo afirma combater. Revelaram também diversas informações, sobre a falsa propaganda governamental americana, que declara estar “vencendo” a guerra contra o terror, enquanto divulga dados fabricados sobre a eficácia de suas operações militares no Afeganistão, e a efetividade dos ataques de drones. 

    O que Brandon Bryant, Michael Haas, P.W. Singer e Chris Wallace fizeram foi, sem dúvida nenhuma, um ato de coragem. Não obstante, o que declararam não foi nenhuma novidade. O jogo de interesses que é a força motriz da política americana dificilmente surpreenderia qualquer indivíduo bem-informado. O que vimos, no entanto, foram quatro indivíduos decentes, com informações de primeira mão, viabilizadas pela experiência pessoal, exauridos e exasperados com a podridão de um governo conivente e condescendente com a morte de cidadãos inocentes, que têm como prioridade fomentar e perpetuar uma política arregimentada em funestos e escusos interesses privados. Com o desejo de purificar suas consciências, e fazer aquilo que é correto, estes quatro cidadãos americanos – que repito, arriscam-se a serem processados pelas forças armadas em corte marcial – corajosamente rebelaram-se contra uma política de interesses insidiosa e corrosiva, para levarem em primeira mão a verdade aos seus conterrâneos.

    A verdade é que, quando falamos à respeito da política americana, a guerra é um negócio altamente rentável, o que não vêm a ser segredo para ninguém. Quando os barões e bilionários senhores da guerra – dentre os quais podemos citar Rupert Murdock, Dick Cheney e Jacob Rothschild – têm em suas mãos todas as ferramentas e influência para manterem o status quo que lhes serve, se abastece de suas indústrias, e enche seus cofres particulares com enormes e consideráveis quantias de dinheiro, absolutamente nada irá mudar. Principalmente quanto temos a CIA – a Agência Central de Inteligência – trabalhando a favor destes mesmos interesses escusos, assinalando, apontando e autorizando operações hostis e questionáveis, diretamente envolvida com a atividade dos drones, estando completamente subserviente a um sistema corrupto, que jamais se mostrou preocupado em servir a interesses altruístas. De qualquer maneira, a verdade não têm valor algum no mundo em que vivemos. Apenas o dinheiro compra, seduz, manda e cria regras. A verdade escancarada não mudará em nada a situação. Os ataque dos drones continuam, e diariamente, dezenas de civis inocentes morrem, morrerão e continuarão morrendo no Afeganistão. E o governo americano continuará com a mesma desculpa de que está combatendo o terror. Mas a verdade é que eles estão propagando o terror. Em nome do lucro. Em nome do dinheiro. Em nome de sua sórdida e sanguinolenta política econômica. Não, mesmo que todos saibam a verdade, nada irá mudar. Aquele deus chamado dólar carrega manchas permanentes de sangue.


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