CAMPO GRANDE (MS),

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    11/04/2016

    ARTIGO| A Bielorrússia de Alexander Lukashenko

    Os Insondáveis Resquícios da Cortina de Ferro no Leste Europeu  

    Alexander Lukashenko, presidente da Bielorrússia - Divulgação

    Alexander Lukashenko, presidente da Bielorrússia em caráter vitalício desde 1994 – quando a nação tornou-se independente, em função da dissolução da União Soviética, quando todas as suas nações constituintes seguiram, então, o seu próprio caminho – têm mostrado ser um líder político tão prático e efetivo quanto controverso e intransigente. Apesar de uma suposta, hipócrita e falaciosa fachada democrática, a Bielorrússia vem a ser uma das nações mais fechadas da Europa contemporânea, governada com brutal e irrevogável mão de ferro por um dos líderes políticos mais pragmáticos do continente. O país que o ocidente rotulou como sendo a última grande ditadura da Europa tem como autoridade máximo um líder obstinado, que jamais se considera vencido quando o assunto é manter-se no poder. Parecendo não economizar meios, recursos ou artifícios quando a questão é legitimar a sua autoridade política, Alexander Lukashenko é conhecido por lançar mão de todos os recursos possíveis – e via de regra, os mais escusos – para justificar sua permanência no poder e assegurar sua perpetuidade no cargo de presidente. As eleições fraudulentas realizadas periodicamente na Bielorrússia atualmente não enganam ninguém que conheça um pouco da história do país e de sua atribulada situação política. 

    Auto intitulando-se um homem do povo, Alexander Lukashenko há muito tempo governa uma nação atribulada, consumida por restrições políticas e governamentais, que são uma infeliz herança do socialismo. Leis restritivas, inexistente liberdade de expressão, e opressivas políticas domésticas são alguns dos agressivos elementos utilizados pelo governo, para manter os bielorrussos em um constante estado de contenção, o que permitiu a Lukashenko perpetuar-se no poder, e enfrentar, ao longo de toda a sua história como presidente da Bielorrússia, pouca ou nenhuma oposição. 

    Não obstante, convém dizer que Lukashenko criou para si um país de relativa prosperidade, algo que sempre priorizou, e o preocupou de forma considerável. Determinado a construir um país edificante, a Bielorrússia certamente se tornou um dos mais diferentes, perseverantes e notáveis países da cortina de ferro, pela maneira como Lukashenko buscou combater, de forma ferrenha e determinada, tudo aquilo que julgava negativo e retrógrado no período soviético. 

    A oligarquia hoje vista na Rússia, e na grande maioria dos países do antigo bloco soviético não existe na Bielorrússia de Lukashenko, o que significa que sistemas centralizados de monopólio de mercado, e a inerente corrupção associada a este tipo de cartel não existe, ao menos não em colossal e desenfreada escala, o que vem a ser muito comum nos países do antigo bloco socialista, ainda adaptados a sistemas soviéticos de subversão e tráfico de influência. Planos econômicos controlados exclusivamente pelo estado formaram o patamar que permitiu ao governo desenvolver uma sólida estrutura de mercado, o que garantiu a Bielorrússia um índice de desemprego baixíssimo, e por conseguinte elevou o padrão de vida da população, promovendo de forma sustentável a prosperidade da nação, o que permitiu à Bielorrússia tornar-se um país muito promissor. Definitivamente muito diferente do que era, quando Alexander Lukashenko assumiu a presidência em 1994, e se viu às voltas com uma nação empobrecida, dividida e sem perspectivas de futuro, o que na época, constituiu um desafio para todas as nações que nasceram das cinzas da União Soviética. 

    Não obstante, a Bielorrússia, assim como a grande maioria dos países do leste europeu, ainda deixa muito a desejar quando o assunto são os direitos humanos. Dissidentes políticos e indivíduos rotulados como subversivos pelo estado estão sujeitos a tratamento brutal e questionável, e todas e quaisquer tentativas de se estabelecer um sistema realmente democrático na Bielorrússia não passaram de irrisórias tentativas, alicerçadas por coalizões medíocres de minorias sem respaldo político ou populacional significativo. Dessa maneira, sempre foi muito fácil para Lukashenko reprimir toda e qualquer oposição ao seu governo, em virtude da impecável máquina de repressão política que o ditador muito habilmente criou para si. 

    A mais recente eleição, em 2015, não poderia ter sido menos controversa, embora pareça ter sido uma das mais transparentes na história da Bielorrússia. Com oito candidatos iniciais para a presidência, apenas quatro se qualificaram para disputar as eleições: Sergei Gaidukevich, do Partido Liberal Democrático, Tatsiana Karatkevich, do Referendo Popular, Nikolai Ulakhovich, do Partido Patriótico Bielorrusso, e evidentemente, como não poderia deixar de ser, o presidente em exercício, Alexander Lukashenko, disputando como político independente, sem afiliação partidária. 

    Tendo “vencido” as eleições, com 83,47% dos votos, torna-se evidente o poder e a influência que Lukashenko é capaz de reter, dentro da esfera governamental da nação, que não ousa ficar contra ele, e trabalha sempre a seu favor. Ainda que progressivos indícios de uma democracia sólida e consistente, mais ainda muito frágil e permissiva, pareça estar surgindo, é provável que Lukashenko deixe a presidência da Bielorrússia apenas quando morrer. Até lá, a semente da democracia terá que esperar, pois todas as estratégias funcionais, operacionais e logísticas do ditador parecem não apenas absolve-lo, mas resguarda-lo de forma intocável no poder, que ele parece ser capaz de reter de forma belicosa e inexpugnável, visto que até hoje, vinte e dois anos e cinco eleições depois, ele continua invicto, e no comando da nação. Até o presente momento, parece não restar melhor alternativa aos bielorrussos, senão esperar pela morte natural de Alexander Lukashenko, e então buscar um rumo mais salutar, igualitário, livre e democrático para a nação.