CAMPO GRANDE (MS),

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    21/12/2015

    Crise política e social no Burundi

    Terceiro Mandato do Presidente Pierre Nkurunziza deflagra o caos e a violência por todo o país

    Divulgação/Arquivo

    A situação continua dramática no Burundi, pequeno país da África Central, com uma população de aproximadamente onze milhões de habitantes, que atualmente vive uma situação de caos político e social, que sedimenta sua história, não apenas como um dos mais pobres, beligerantes e precários países do continente africano, mas também do mundo, que, diante do atual panorama de crise política e social, contribui para uma situação que piora a cada dia, tornando impossível para sua população vislumbrar quaisquer esperanças ou expectativas otimistas, tanto a curto quanto longo prazo, o que torna o futuro para os burundianos, no mínimo, incerto, desolador e crítico.

    Com uma história caótica que remonta a tensões e conflitos étnicos, golpes de estado, contendas e intrigas políticas, governos totalitários, guerras civis e campanhas de genocídio, o Burundi é o típico país africano, onde a pobreza generalizada, a falta de infraestrutura básica para a população, a corrupção e o abuso de poder são apenas pequenos, corriqueiros e sintomáticos dramas cotidianos, que infelizmente sementam o padrão diário de normalidade de uma população subnutrida, sofrida, deprimida e maltratada, cujas condições precárias e insalubres de existência apenas exasperam e extenuam ainda mais os cidadãos do paupérrimo país, aviltados por um governo indiferente, abusivo, agressivo e violento, que não oferece, em absoluto, quaisquer perspectivas de melhora, e que tem como única e principal prioridade perpetuar-se no poder, não importa a que custo. 

    O ano de 2015 foi particularmente difícil para a população. Assim que o partido dominante – que, com toda a pompa e circunstância, autodenomina-se Concílio Nacional para a Defesa da Democracia – anunciou que o atual presidente, Pierre Nkurunziza, iria candidatar-se a um terceiro mandato para a presidência, protestos e tumultos foram deflagrados por todo o país. Quando a candidatura de Nkurunziza foi aprovada pelos respectivos órgãos legais do Burundi, opositores políticos trataram de fugir, para evitar as brutais represálias que certamente lhes sobreviriam, caso ousassem ficar. Um enorme êxodo de aproximadamente 150.000/ 200.000 burundianos colocou-se em fuga, mas a oposição popular continuou. Como resultado, uma grave crise política e social, de violentas proporções, incorreu sobre toda a nação.

    Uma fracassada tentativa de golpe de estado ocorreu no mês de maio, enquanto o presidente Nkurunziza estava na Tanzânia. Não obstante, o exército e as instituições governamentais ficaram ao lado do presidente Nkurunziza, que retomou o poder ao retornar, e começou uma terrível campanha de repressão política, que viu mais uma vez irromper no Burundi uma violência que, até o momento, já deixou centenas de mortos e feridos, conforme as forças do governo e da oposição digladiam-se em um combate cada vez mais agressivo, acirrado, sanguinário e virulento. 

    Divulgação/Arquivo

    Recentemente, em 11 de dezembro, três acampamentos e uma escola militar foram alvo de um massivo ataque na capital, Bujumbura, liderado pela oposição, que deixou mortos e feridos. Como retaliação, a polícia intensificou o seu programa de abusos e repressão, e como resultado, civis continuam sendo mortos, em uma carniçaria cada vez mais desumana e preocupante, que promete fazer a nação perder-se ainda mais no caos, no medo e na anarquia, com toda a sorte de brutais e cruéis violações dos direitos humanos sendo perpetradas de forma hostil e desenfreada, sem qualquer compaixão, consideração ou respeito pela vida humana. Um representante da ONU teria manifestado preocupações com relação à possibilidade de genocídio. Em virtude do grave histórico do país, que remonta ao genocídio de Hutus em 1972, e ao dos Tutsis em 1993, o Burundi veria repetir-se em território nacional, mais uma vez, uma tragédia em larga escala. Não obstante, o surto de violência provavelmente seria ainda maior do que nas ocasiões anteriores. 

    Divulgação/Arquivo

    Expressando uma megalomania típica de presidentes africanos, o presidente em exercício Pierre Nkurunziza, cujo terceiro mandato na presidência é o que têm provocado o caos e a instabilidade no país, afirma que Deus o escolheu para governar Burundi. Além das universidades, que foram fechadas recentemente, a internet e as linhas telefônicas foram igualmente inviabilizadas no país inteiro, impossibilitando qualquer contato dos cidadãos com o mundo exterior. O governo justificou tal medida afirmando que assim é capaz de impedir a comunicação e a evolução de estratégias entre os líderes da oposição. Ao que tudo indica, o futuro no Burundi é, no mínimo, sombrio e desolador, e um possível retorno à “normalidade” tem se mostrado, até o momento, inviável, para dizer o mínimo.