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A República Autônoma de Nakichevan é um exclave azeri, localizado entre a Armênia e o Irã, tendo também uma diminuta fronteira com a Turquia, a noroeste. Como um exclave do Azerbaijão, possui um elevado grau de autonomia, tendo por capital administrativa a Cidade de Nakichevan, e uma população aproximada de 415.000 habitantes.
Tornando-se território disputado pela Armênia e pelo Azerbaijão logo após a revolução bolchevique de 1917, como todo e qualquer exclave, não consegue deixar de ser o epicentro da confluência de diversas culturas, contrastes, pragmatismos, e embates políticos para onde convergem (ou divergem, dependendo do ponto de vista) os principais elementos que, neste caso, a compõem: a difícil coexistência da política azeri com as ambições territoriais armênias.
Com grandes dificuldades para conciliar tais divergências, ainda que tenham muitas coisas em comum – como a sovietização a que estiveram sujeitas, quando ambas as nações tornaram-se estados socialistas governados pela União Soviética – a República de Nakichevan ainda sofre com as consequências da guerra azeri-armênia de Nagorno-Karabakh, que consolidou ainda mais as hostilidades entre as duas nações.
Ainda que tenham se passado mais de vinte anos desde o término do conflito, as tensões políticas entre os dois países parecem estar sempre em ponto de ebulição, em virtude da desmesurada ânsia de domínio político que ambas as nações apresentam, e de maneiras muito similares. No atual contexto político, um motivo de atritos entre as duas nações é o território de Karki, um exclave da República de Nakichevan (e portanto, o exclave de um exclave), sendo, tecnicamente, território azeri. No entanto, o local é controlado pelos armênios a mais de duas décadas, que o administram como parte de uma de suas províncias.
Para evitar a tentação de uma ocupação do território por parte da Armênia, no passado, autoridades turcas e soviéticas anunciaram intenções de realizar intervenções militares, caso o enclave de Nakichevan não fosse respeitado pelos armênios como território estrangeiro.
No Azerbaijão ocorre uma situação muito similar, com respeito ao território de Nagorno-Karabakh. Ao contrário da República de Nakichevan, no entanto, que é oficialmente reconhecida como uma república autônoma e um exclave do Azerbaijão, a República de Nagorno-Karabakh é um estado separatista sem reconhecimento oficial – a não ser da parte de outras três nações, todas elas estados separatistas, na mesma condição – localizado no Azerbaijão. Sua população, bastante homogênea, sendo em sua totalidade quase 100% armênia, busca reconhecimento formal de independência política, aceitando a possibilidade de ser incorporada a Armênia.
A situação política das duas nações, portanto, é muito similar: existe uma república azeri dentro da Armênia, e uma república armênia dentro do Azerbaijão. Não obstante, a coexistência pacífica entre as duas nações parece, até o presente momento, ser uma possibilidade bastante remota.
O problema que acomete as duas nações é exclusivamente político, e, evidentemente, não ocorre apenas ali. O que acontece é que líderes de mentalidade demasiadamente politizada, inflamados por um inconsequente fervor patriótico, insuflam paixões nacionalistas no povo, que acaba cometendo o grande erro de importar-se demais em traçar fronteiras e demarcar territórios, e importar-se de menos com o que mais importa: os seres humanos que ali estão.
Por: Wágner Herzog
